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SAÚDE: A 10km em cadeira de rodas

por José Pereira (zedebaiao.com), em 23.03.14

Em pleno País desenvolvido ou em desenvolvimento, onde dizem que o País está melhor e que as pessoas estão cada vez piores, chegam-nos as notícias de que a D.a Ofélia, ja com visíveis dificuldades e fragilidades físicas e económicas, se vê obrigada a empurrar a cadeira de rodas, da sua filha ("deficiente"), por cerca de 10 km, ao longo da estrada nacional, para irem ao médico.

 

Isto é uma vergonha para nós todos. É igual ou pior do que a realidade de Paises considerados subdesenvolvidos,  ou seja, de terceiro mundo.

 

Esta situação, pelo que consegui compreender, chega até nós devido a uma luta ou manifestação sobre o ecerramento de mais um Centro de Saúde. 

 

No entanto, se a situação me indigna pelo facto de se estar a encerrar mais de 7000 serviços públicos em pleno País em retrocesso, muito mais indignado fico ao constatar que, naquela terra de Vaqueiros, não há um Presidente de Junta, um Presidente de Câmara, um Vereador ou uma qualquer Instituição de Solidariedade Social, que demonstre capacidade para resolver o problema da D.a Ofélia e de outros cidadãos fragilizados enquanto continuam as lutas políticas.

 

Indigna-me que um Presidente de Junta, um Presidente de Câmara,  uns Vereadores, um Padre, ou quem quer que seja, tenham conhecimento deste tipo de situações e permitam que esta senhora continue a empurrar a cadeira, ja sem forças,  por cerca de 10 km. Não há uma alma caridosa que leve a senhora sempre que necessite de ir ao médico,  até que se resolva a situação e se consiga a resposta que melhor sirva as partes e o interesse público? 

 

Não é digno que, enquanto os políticos não resolvem os problemas e dificuldades das suas localidades, se deixe uma senhora destas a empurrar sozinha tamanha cadeira de rodas.

 

Eu se fosse Presidente de Câmara,  Vereador ou Presidente de Junta, tinha vergonha na cara e  se algum dia viesse a dizer em campanha eleitoral que era candidato para trabalhar desinteressadamente pelos outros, abdicaria de perte do meu salário ou das senhas de presença para que a D.a Ofélia não tivesse mais de empurrar a cadeira de rodas ao longo dos 10 km.

 

Se eu não tivesse meios económicos,  iria eu próprio empurar a cadeira de rodas à D.a Ofelia até que o problema fosse resolvido politicamente.

 

Já sei que vão dizer que há muitas o D.as Ofélias e filhas com idênticas ou piores dificuldades.  

 

Pois eu sei que há,  mas também há muitos mais cidadãos para se unir e lutar pela resolução dos problemas dos mais fragilizados,  sendo que passamos de carro ao lado de muita cadeira de rodas, de muitos idosos com dificuldades, de muitas crianças em dificuldades, de muitos sem-abrigo e nem por isso abdicamos do conforto do nosso cargo ou do nosso carro para ir para a rua ajudar a empurrar as cedeiras de quem tem dificuldades, não só de mobilidade, mas sobretudo socioeconómicas.

 

Os problemas do nosso País só se resolverão no dia em que todos estivermos dispostos a sair do conforto e a olhar para baixo e para o lado antes de olharmos para cima. Ou então, quando já todos andarmos na cadeira de rodas ou a empurra-la.

 

Pelo que constatamos nas notícias,  a localidade de Vaqueiros é servida apenas por um autocarro diário às 7h30 da manhã, a carrinha da Junta de Freguesia não está adaptada, os taxistas já evitam fazer este serviço e nem sempre a ambulância dos bombeiros voluntários de Pernes está disponível. 

 

Como se constata, por esta realidade que chega até todos nós pela TV, o problema e a falta de  vontade ou de competência vai muito para além da questão política do Centro de Saúde,  sendo que, não seria assim tão difícil adaptar uma carrinha ou até comprar uma nova para solucionar primeiro o problema essencial e depois continuar a fazer a luta. Poderia por exemplo o Sr. Presidente de Câmara mandar lá o seu motorista transportar a senhora e abdicar de um dia de conforto. Ou então ir lá o motorista do Sr. Primeiro Ministro ou do Sr. Ministro da Saúde,  sendo que passaria bem um dia sem carro e sem motorista e seria bem mais confortável o seu dia do que o empurrar de uma cadeira de rodas por 10km naquelas condições tão frágeis e injustas socialmente.

 

 A continuar assim, pelo que constatamos e pelo rumo político que deixamos seguir, só resta a todas as Donas Ofélias deste País,  meter pernas e rodas ao caminho e percorrer 10 km para poderem ir ao médico, Ou então acordarmos todos e percorrer os km que sejam necessários até se provocarem as mudanças justas e sustentáveis, que permitam uma vida digna para todos.

 

Porque é que não vai o médico a casa? Se a carrinha da Junta não está adaptada para a cadeira de rodas, certamente que estará adaptada para transportar o Sr. Presidente de Junta e o médico, até casa desta senhora, pelo menos enquanto não resolvem o problema social ou político. 

 

"Se Maomé não pode ir à montanha,  movam-se montanhas para que o médico vá até Maomé. 

 

Fonte das fotos: www.rederegional.com 

 

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