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Venho por este meio agradecer a todas e a todos que vão encontrando alguma utilidade (ou futilidade) nas palavras deste aldeão baionense ("O Rabelo" - aldeão que vai viver para o Porto), que tanto procura informar, como desassossegar. A TODOS, MUITO, MAS MESMO MUITO, OBRIGADO! São vocês, conhecidos e desconhecidos, que me motivam a permanecer informado e a escrever.

 

Num período como este pelo qual estamos a passar, de pensamentos raros e de verdades cristalizadas, mesmo que disfarçadas de falsas certezas, como algumas correntes de pensamento político-ideológico fazem crer, nada melhor do que recorrermos a um determinado grau de rebeldia responsável e nos arriscarmos a desassossegar. Já quase todos nos apercebemos de que não basta apenas uma mudança de olhar. Nos tempos que correm, urge uma ousadia arrebatadora que desarranje, de uma vez por todas, os velhos esquemas que circundam de forma preguiçosa a realidade em que hoje vivemos.

 

Tudo começou no dia 10 de agosto de 2013, tendo juntado a predisposição de estar atualizado com a vontade de intervir humana, cívica e politicamente. Estava já farto dos 40 anos (de idade e de liberdade) acomodada, acobardada, resignada e tantas vezes marcada por um conformismo alapado ou inconformado, a que nas últimas décadas nos habituaram, mas que em pouco ou nada nos ajudaram.

Obrigado O Rabelo Zé de Baião 12000 Visitas

Como já aqui escrevi, sou um cidadão como todos vocês, sendo por isso que, se me querem conhecer verdadeiramente, devem procurar conhecer-me pessoalmente, olhos nos olhos e no decorrer do nosso trabalho ou  das nossas ações.

Creio que podem, e devem, avaliar e julgar as pessoas pelas suas ações (positiva ou negativamente), mas não apenas por aquilo que pensam e escrevem, nem simplesmente pela forma como o escrevem, sendo que todos temos defeitos e virtudes, idênticas às que qualquer ser humano pode e deve ter. Eu, pessoalmente, sou e quero continuar a ser igual a mim próprio, mas também parecido com todos vocês.

 

É certo que, se formos sinceros, como me esforço para ser, a forma da expressão e da escrita ditará muito daquilo que sou, sendo natural que o meu estilo venha a despoletar muitas das criticas que, com toda a simpatia, recebo, sejam a elogiar-me ou a criticar-me. Recebo umas e outras com o mesmo agrado, sendo que é assim que aprendemos e nos ajudam a crescer e a melhorar. No entanto, devemos estar cientes de que, qualquer expressão escrita representa apenas uma pequena parte daquilo que somos e tantas vezes é apenas o reflexo ou a reação sobre aquilo que de bom ou de mau vivenciamos.

 

Sinto que sou mais um dos que acreditam que urge um determinado grau de rebeldia, mas por uma boa causa, sendo que a rebeldia sem causa só gera maior instabilidade social. Muitos dos que estão bem e que preferem que nada se mude, julgando que me conseguirão demover ou desmoralizar, perguntam-me se eu ainda acredito que é possível mudar o mundo, sendo que eu respondo que sim. Podemos não conseguir mudar o mundo, mas sei que podemos ir mudando. Espero que para melhor. Querer mudar o mundo, eu até queria, mas essa não é a tarefa de um homem só. O que eu queria mesmo era forjar instituições e movimentos cívicos ou políticos compatíveis com aquilo que precisamos e não regidos por aquilo que alguns querem, mas vou-me apercebendo que o regime em que nos encontramos está tão profundamente deformado, que chega ao ponto de nos envolver, consciente ou inconscientemente e com tanta força, que pode constranger ou mesmo corromper até as nossas iniciativas mais generosas.

 

Quem já estudou ou leu algo de Edgar Morin, compreendera que "a ordem nasce ao mesmo tempo que a desordem" ("A natureza da natureza") e eu acredito que a rebeldia responsável e por uma causa justa, é um dos mais valiosos instrumentos do trabalho humano, social, cultural ou económico.  Mais do que certezas, os pequenos contributos que possamos dar, acarretam questionamentos e indagações que não se podem circunscrever a fronteiras predeterminadas, sejam elas individuais, familiares, sociais, culturais ou mesmo políticas, sendo que, se a ciência sempre optou pela construção da certeza, aquilo que Edgar Morin procurou sistematizar, no seu amplo esforço intelectual, foi instaurar o método da incerteza, não como imobilismo, mas sim como atitude crítica face aquilo que se considera ser hoje o conhecimento, mas que amanhã pode não ser.

 

É neste sentido que acredito que devemos lutar contra o monopólio da palavra, do conhecimento, da cultura, da política e da riqueza

Contra a exacerbação do individualismo que tem acarretado a queda da responsabilidade e da solidariedade. Individualismo este que se tem vindo a alastrar por todos os ramos da atividade humana e social.

Contra a ausência de sentido (crítico) humano, cívico e político

 

No fundo, foram estas as motivações que me levaram a ser um "rabelo" desassossegador (não sou escritor). Comecei a escrever nas redes sociais afirmando-me como sendo o "Zé de Baião" (um comum cidadão - sou José, vivo e trabalho no Porto, mas sou natural de Baião), sendo este o perfil de um aldeão que se viu forçado a navegar e a  "abandonar", temporariamente, a sua terra e a sua gente, bem como a descer e a subir a estrada ou o rio, em busca de trabalho, de melhores condições de vida e acima de tudo para conseguir o acesso à educação, ao conhecimento e à cultura, valores e condições estas que na década de 90 não eram fáceis de encontrar e de se aceder em Baião, sobretudo quando os recursos económicos, educativos e culturais eram muito escassos e onde o 25 de Abril demorou a chegar, se é que já lá chegou, ou melhor, se é que por lá se interiorizou e generalizou. 

 

Sempre que subo e desço a estrada ou o rio, parece que continua tudo igual ou mesmo a caminhar para pior, sendo por isso que procuro empenhar-me em fazer chegar, à nossa terra e à nossa gente, tudo aquilo com que me cruzo e que considero poder ser útil a alguém (nem que seja a uma só pessoa), mesmo tendo plena consciência de que muitos consideram o nosso empenhamento uma vaidade ou mesmo uma inutilidade. Mas é a procurar informar uns e a desassossegar outros que a escrita se vai desenrolando.  

 

Como já aqui referi, desistam aqueles que julgam que me silenciarão, seja porque via for, sendo que aquilo que me move não é, nem pode ser, apenas e só o nosso interesse pessoal. Enquanto houver gente com muito maiores dificuldades do que nós, o nosso foco de atenção e de ação deve ser direcioando para aqueles que têm muito menos do que nós.

 

Poderia baixar os braços e acreditar que sou feliz com o pouco que tenho, sendo já suficiente para mim.

Mas então e os outros?

Não consigo esquecer-me do que fui e do que sou. Muito menos poderei esquecer-me do que serei e do que poderão vir a ser os outros.

Por isso, continuo a recusar-me a permanecer satisfeito, comigo e para com os outros, sendo por isso que continuarei a navegar, a lutar, a andar por aqui e por aí a desassossegar, a ajudar, a avançar, a estudar, a trabalhar,..., mas sobretudo a acreditar e a ter esperança que é possível mudar e, por incrível que pareça, ainda continuo a acredita que é possível evoluir e ter sucesso com base no mérito.

 

Não espero que acreditem em mim, mas peço-vos e desejo que acreditem em vós.

 

Até breve.

Obrigado.

Porto e Baião, 5/2/2015

"O Rabelo"

José Pereira (Zé de Baião)

 

 

A estes aldeões os portuenses chamam de "rabelos",  isto porque sabem que somos incapazes de abandonar a nossa terra e a nossa gente, argumentando que andamos sempre, rio abaixo, rio acima, até nos desfazermos na passagem infeliz de um ponto qualquer, ou então, se não tivermos essa sorte, até sermos abandonados nalgum recanto das margens, onde permaneceremos a desfazer-nos ao tempo implacável, tal como acontecia, noutros tempos, aos barcos rabelos.

 

Mas acreditem que podemos e devemos ter muito orgulho no apelido de "rabelo", até porque, se a estas carcaças de madeira (já gasta e podre) os marinheiros e a gente da cidade dão o nome de "morto", mas não nos podemos esquecer que, por vezes, estes restos dos rabelos acabam por servir para aquecer o corpo e a alma de muitos dos citadinos que não dispõem de recursos suficientes para se recolher num lar aconchegado, nas noites frias de inverno.

 

Dizem ainda que temos as mão rudes e que utilizamos técnicas primitivas, mas esquecem-se que, destas mãos e destas cabeças, recorrendo apenas aos raios de sol, à água e à terra, temos a capacidade de fazer surgir um conjunto de coisas requintadas na sua equilibrada concepção, imponentes no seu aspeto, altivas no seu porte e mesmo verdadeiros embaixadores de um povo ou de uma região.

 

Todos os dias que descemos o rio e nos vemos obrigados a abandonar a nossa terra e a nossa gente, sentimos o peso da carga de um barco, mas todas as vezes que subimos o rio em busca das nossas origens, dos familiares e amigos, voltamos a sentir o vencer da corrente.

 

Podemos passar por enormes dificuldades, mas tenham a certeza que não nos deixaremos vencer por qualquer corrente, tenha ela a força que tiver. Tanto somos capazes de navegar ao sabor do vento e da corrente, como temos a força e a capacidade de a vencer.

 

Já dizia Eça de Queirós que  "a desconfiança terrível de si mesmo, que o acobarda, o encolhe, até que um dia se decide, e aparece um herói, que tudo arrasa... (...) Assim todo completo, com o bem, com o mal, sabem vocês quem ele me lembra? – Portugal.”



Eça de Queirós, “A Ilustre Casa de Ramires” (Sem esquecer a Cidade e as Serras que marcam a passagem por Baião)

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