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Tortura invisível: Se ainda aguenta, é porque não lhe doi nada!

por José Pereira (zedebaiao.com), em 25.11.13

Sobre José Sócrates: “Temos aqui um diamante e continuamos a teimar em vender ferro velho”.

 

 

Esta foi uma frase que ouvi recentemente, enquanto esperava numa fila para comprar a recente “mémoire”(dissertação) de José Sócrates.

Não sei a que preço andam hoje os diamantes, mas o que sei é que aos diamantes muito poucos têm acesso e ferro velho todos nós temos a enferrujar nas nossas garagens.

 

Esta frase e o período prolongado de espera, levaram-me a uma pequena pesquisa sobre as filas de espera e a escrever esta pequena abordagem sobre a espera pelos líderes.

 

É natural que ninguém goste de estar por muito tempo à espera numa fila, sobretudo quando a mesma é desorganizada, quando há pessoas impacientes pelo produto e quando não há um banco para nos podermos sentar enquanto aguardamos ou uma televisão para nos entreter.

 

Com esta pequena brincadeira, cruzei-me com um estudo científico publicado no “Journal of Organisational Behaviour and Human Decision Processes” (Dai, X., & Fishbach, A. ,2013) , onde se conclui que as pessoas que têm a capacidade de resistir e de aguardar numa fila,  minimamente organizados e ordenados, tornam-se mais pacientes e aumentam a sua capacidade para tomar melhores decisões, conseguindo assim atingir melhores resultados/recompensas no final.

 

Este estudo, desenvolvido pela Universidade de Chicago, conclui que, numa sociedade de esperada gratificação instantânea, os cidadãos que ainda têm a capacidade para resistir e esperar por algo, valorizam mais os bens ou serviços porque esperam e sentem mais profundamente que valeu a pena o período de espera e o bem que conseguiram adquirir. Conclui-se ainda que, para além da valorização dos bens ou serviços atingidos, aqueles que esperaram acabaram por tomar as melhores decisões.

 

Os cientistas sociais, sobretudo os psicólogos, estudam esta realidade no campo da “autopercepção”, ou seja, no âmbito da capacidade de dar tempo ao tempo e à reflexão para conseguirmos saber o que preferimos, em que é que acreditamos e o que é que realmente queremos, face à avaliação do nosso comportamento e à observação que fazemos sobre os comportamentos e as atitudes dos outros.

 

Refere a investigadora Ayelet Fishbach (2013) que, para além “das pessoas tenderem a valorizar mais as coisas no presente e a desvalorizar o seu valor no futuro” este estudo vem sugerir “que fazer as pessoas esperar para tomar uma decisão pode melhorar a sua paciência, pois o processo de espera faz com que esta pareça mais valiosa.”

 

Atendendo ao estudo e a que a espera era por um livro de José Sócrates, sobre “a tortura em democracia”, será que teremos de viver de novo numa ditadura ou num constante regime de tortura invisível, para darmos o devido valor à Democracia? Espero que não!

 

Por quanto mais tempo aguentaremos na fila?

Fonte: Dai, X., & Fishbach, A. (2013). When waiting to choose increases patience. Organizational Behavior and Human Decision Processes, 121, 256-266.

http://faculty.chicagobooth.edu/ayelet.fishbach/research/

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