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Navego livremente entre a cidade e as serras (Baião«»Porto) Aquilo que me move é a entreajuda. Vou navegando na esperança de poder chegar a alguma pessoa ou lugar e poder ajudar. @Zé de Baião
Já foram divulgados os pré-requisitos para a candidatura ao ensino superior em 2016.
Informem-se também sobre as provas específicas/de ingresso e sobre o processo de candidatura a bolsa de estudo.
Consulte aqui alguns dos cursos a que poderá concorrer e que exigem pré-requisitos https://dre.pt/application/file/73587024
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REGIÕES AUTÓNOMAS
Inverteu-se a linha ideológica da reforma educativa: A burra começou a mijar para frente e o Homem a atirar para trás.
Ao tomar conhecimento do falecimento de um dos principais reformadores e impulsionadores do processo democratizador do sistema educativo português (Prof. Doutor Veiga Simão), esta é a minha primeira interpretação socioeducativa e sociopolítica sobre a evolução e/ou retrocesso da educação.
O contexto que se vive hoje transporta-me para o passado, cujas referências históricas, há mais de 40 anos, eram relatadas nos termos que se seguem:
"...Num contexto opressor e de isolamento do país, também marcado pelo descontentamento crescente do corpo docente e pelo afastamento político e profissional de docentes e investigadores, caminhava-se para a consciencialização da falta de um enquadramento institucional e organizacional adequado, bem como da falta de capacidade para se alterar o regime de administração e de financiamento das instituições de ensino superior, o qual era fortemente dominado por um número reduzido de cátedras que não correspondiam às exigências da crescente renovação e maturidade científica...
...A este propósito e a partir da constatação de que “as instituições universitárias não se auto-reformam”, defendia Miller Guerra (1969) que "haveria necessidade de se fazer diferente e de raiz, ou seja, de se criar algo de novo, em locais novos e com outros intervenientes", referência esta que, passados mais de 40 anos, parece continuar a ser igualmente válida, a fazer sentido e de relevante interesse para o desenvolvimento do ensino superior em Portugal". (Excerto da dissertação de mestrado em Administração e Gestão Pública, Univ. de Aveiro, sob o tema: Estruturas Organizacionais e de Gestão do Ensino Superior - Pereira, J.)
Face a este contexto e à situação atual da educação e do ensino superior em Portugal, recordo-me que, na minha aldeia (Gôve - Baião), costumava ouvir dizer que "para trás só mija a burra". No entanto, face à situação atual de crise social e económica, face à situação atual da educação e, mais grave, face ao pensamento ideológico daí decorrente e facilmente generalizado e reintroduzido na cabeça das famílias socioeconomicamente mais fragilizadas, começo a ficar muito preocupado e a pensar seriamente que os burros começaram a mijar para a frente e os seres humanos a atirar para trás.
Apesar de gostar de estudar e de trabalhar (há cerca de 20 anos) as questões e problemáticas socioeducativas e socioeconómicas, estou consciente de que pouco ou nada sei de educação, mas como sempre gostei de ir pesquisando e aprendendo, procuro estudar a evolução das organizações e reconhecer o trabalho daqueles que, de uma forma ou de outra, nos permitiram e permitem dar um pequeno salto social, educativo, cultural e socioeconómico. No entanto, não deixo de ser apenas mais um "filho de Abril" e um fruto dos pequenos saltos socioeducativos conseguidos por via dos apoios do Estado Social (subsídios e bolsas de estudo), sendo por isso que sempre dei comigo a tomar o lado dos mais frágeis e ainda recentemente a discordar da "burla social e financeira" referida pelo Dr. Medina Carreira e excelentemente desmontada e contrariada pelo Professor Doutor Carlos Fiolhais, da Universidade de Coimbra.
Não podemos permitir que se volte a repetir a história destrutiva da educação e muito menos que se descredibilize ou enferruge a chave do desenvolvimento.
Educação é a chave para um desenvolvimento duradouro
Discordei e discordo da linha ideológica, retrogada e economicista, apregoada e mal esclarecida recentemente pelo Dr. Medina Carreira num programa televisivo ("Olhos nos Olhos", da TVI), isto porque sempre tive, tenho e continuarei a ter a consciência tranquila de que, ao estudar com recurso aos apoios sociais, não burlei ninguém e estou hoje a contribuir para o retorno desse investimento em prol de outros que hoje passam por idênticas ou piores dificuldades socioeconómicas. Hoje reconheço que, sem esses instrumentos de apoio socioeconómico e socioeducativo, por mais inteligente e capaz que eu fosse, nunca teria conseguido progredir, passo a passo, nível a nível e muito menos chegar ao ensino superior, mesmo que trabalhando e estudando como sempre me vi obrigado a fazer.
Mesmo assim, sinto-me hoje um priveligiado, sendo por isso que há muito que constato e refiro que os realmente mais carenciados não chegam sequer ao 12.º ano, quanto mais ao ensino superior. Muitos foram e continuam a ser os familiares, colegas e amigos que nem sequer ao 9.º ano chegam, quer por falta de meios económicos, como pela débil e tardia tomada de consciência sobre a importância da educação para o desenvolvimento humano, familiar, social, económico e mesmo empreendedor e empresarial.
É por isso que estarei eternamente grato a todas as Mulheres e Homens que lutaram e lutam pela democratização da educação, da cultura, do ensino superior, da ciência, da tecnologia e do desenvolvimento humano e social.
É nesse contexto que gasto hoje um pouco deste fim-de-semana, a redigir estas breves notas e apontamentos, como forma de agradecimento e particular homenagem ao Professor Doutor Veiga Simão, com quem me cruzei meia dúzia de vezes nos tempos de estudante e de dirigente associativo do ensino superior, nomeadamente em defesa e representação dos estudantes economicamente mais carenciados/bolseiros.
Sempre senti que o Professor Veiga Simão era um grande defensor da escola pública e da democratização da educação e do ensino superior. Por isso, muito obrigado!
Apesar do forte desenvolvimento económico que caraterizou a década de 60, o país vivia submetido ao regime ditatorial de Salazar (1946-1968), marcado por um clima de tensão constante, sobretudo influenciado pelos opositores à Guerra Colonial, pela censura à imprensa e às manifestações culturais, pela perseguição a todos que se opusessem ao regime, bem como pelas movimentações estudantis que tiveram sempre uma ação crítica sobre as reformas do ensino superior e que exerciam influência sobre a sociedade portuguesa em geral.
A partir da década de 60 passa a ser reforçada a acção social escolar, bem como a criação de programas destinados à educação de adultos, nomeadamente pela via do “Plano de Educação Popular”, sendo implementados os “Cursos de Educação de Adultos” e a Campanha Nacional de Educação de Adultos”, medidas estas lançadas durante o mandato do Ministro da Educação Nacional Pires de Lima (1947–1955). Estas medidas mereceram um forte aplauso e largos elogios por parte da Assembleia Nacional e viriam a estar “na base de uma renovação da situação escolar portuguesa que viria a servir de ponto de partida para a transformação que iria processar-se nos anos próximos” (Carvalho R. , 1986, p. 791).
Quando Marcelo Caetano chegou à chefia do Governo (1968-1974) a situação em que se encontrava o ensino superior e a investigação em Portugal faz-me pensar nos dias de hoje, tendo sido na década de 60 retratada, por Fernando Dias Agudo, nos seguintes termos: “Assim, com verbas demasiado baixas, ausência de cursos regulares para pós-graduados, núcleos de investigação de dimensão inferior à dimensão crítica (à parte uma ou outra excepção), professores sobrecarregados com trabalho docente e muitos ocupados ainda em actividades estranhas à Universidade, a nossa produção científica ainda depende muito do espírito de dedicação de um ou outro professor e, por isso, embora haja alguns centros de excelência, não pode deixar de se apresentar com um nível inferior ao que seria desejável — com prejuízo do próprio ensino que a universidade deve ministrar e do papel que lhe devia caber na formação do escol de investigadores de que o País tanto necessita para o seu desenvolvimento económico e social” (Dias Agudo, 1968, p. 143).
De entre os principais problemas que afetavam a investigação universitária, destaca-se a perceção da falta de investigadores que viriam a comprometer as necessidades futuras do país. Como demonstra João Caraça, “quando se trata de incrementar o esforço em I&D, o principal constrangimento não se encontra na dificuldade de aumentar os recursos financeiros, mas sim na inexistência de potencial humano qualificado e de um enquadramento institucional e organizacional adequado” (Caraça, Conceição, & Heitor, 1996, p. 1210).
Entre 1969 e 1974, período que culminou na revolução democrática do 25 de Abril, foram surgindo algumas transformações significativas no que respeita à relação do Estado com as instituições de ensino superior, sendo de destacar a reforma de 1973 delineada pelo Ministro da Educação, do Governo de Marcelo Caetano, Prof. Veiga Simão. Numa fase inicial, o Ministro Veiga Simão apresenta as suas ideias políticas em dois documentos de trabalho, o que veio a proporcionar uma ampla e aberta discussão antes da sua publicação. Uma das propostas abordava o “Projeto do Sistema Escolar” e outra especificamente as “Linhas Gerais da Reforma do Ensino Superior”, documentos estes que viriam a tomar a forma de Lei em julho de 1973 (Decreto-lei n.º 5/73, de 25 de Julho – “Reforma Veiga Simão”.
Logo no discurso de tomada de posse, em janeiro de 1970, o Ministro da Educação Nacional, Veiga Simão, tornava claras as orientações políticas fundamentais que pretendia vincular ao seu mandato, referindo que:
“A educação é o problema cimeiro, a alma motora, o meio consciencializante, por excelência, desse espírito revolucionário. […] A educação é o veículo poderoso e essencial que toma possível a vida humana ser digna de ser vivida, facilitando todo um processo de justiça social, inerente a qualquer fórmula de melhoria da condição do homem. Educar todos os portugueses, onde quer que se encontrem, na aldeia escondida ou na cidade industrializada, na savana seca e ignota ou na lezíria verdejante, é princípio sagrado de valor absoluto e de transcendente importância a escala nacional" (Simão J. , 1973, p. 12).
Mas a Universidade insere-se neste quadro como um gerador imprescindível, elemento fundamental para a resolução de todos os problemas apontados, porque há-de ser viveiro de professores de todos os graus de ensino, escola de formação de cientistas e técnicos, centro dinâmico de alta cultura humanística e refúgio da plena e indefectível independência do espírito. […] A reforma da Universidade constitui por isso a preocupação cimeira deste Ministério e, ouvidos todos os seus elementos representativos, serão ensaiadas soluções que lhe assegurem a posição de vanguarda nos domínios do pensamento e lhe confiram uma eminente dignidade" (Simão J. , 1973, p. 16).
O mandato de Veiga Simão tinha como um dos lemas vencer a “grande, urgente e decisiva batalha da educação” (Carvalho, 1986, p. 887), sendo que, no contexto do sistema educativo, o ministro atribuía especial relevância à reforma da universidade, na qual via um sistema de ensino que praticamente se reduzia à tarefa de formação de professores do ensino secundário.
Veiga Simão, determinado em atingir os seus objetivos, determinou implementar o regime de concessão de equivalência ao grau de doutor obtido no estrangeiro, lançou a diversificação e expansão do ensino superior, mediante a criação de novas universidades e institutos politécnicos e fez aprovar a Lei de Bases do Sistema Educativo de 1973.
Alguns analistas sociais (Stoer (1986) e Grácio, R. (1983)), consideram que o aparecimento da Reforma Veiga Simão, nesta ocasição crucial, constitui um ponto central na compleição de uma nova organização política e económica das forças sociais, correspondendo esta a uma reforma estrutural e estratégica, cujos objetivos ultrapassam o próprio sistema educativo.
Hoje, constatamos que os nossos "governantes" e "representantes" políticos têm andado demasiadamente embrenhados ou distraídos em torno de questões empresariais e financeiras que até se esquecem das questões humanas, sociais, educativas e socioeconómicas.
Atendendo a que aos políticos e governantes compete refletir, debater e tomar as melhores decisões para a sociedade e em defesa do supremo interesse público, poderemos concluir que estarão a contribuir, conscientemente ou inconscientemente, ativamente ou passivamente, para a execução de um crime socioeducativo e socioeconómico.
Será que algum dia teremos a capacidade e responsabilidade de penalisar e/ou criminalizar os nossos políticos, representantes e governantes pelos males que provocam nas pessoas e no País?
Espero que sim!
Temos a obrigação de pensar não só sobre o presente, mas sobretudo no sentido de planear, precaver e preparar o futuro.
Para isso, é necessário analisar devidamente a situação passada e presente, determinar objetivos, assumir compromissos e precaver o futuro de todos e não só de alguns.
John Goddard (2009, p. 10), tomando por base o modelo integrado de objectivos e compromissos (“Engagement with Society”) do ensino superior para com a sociedade, desenvolvido pelo professor Marilyn Wedgwood (2003) (2006), defende que, ao cruzarmos os quatro vetores de análise das instituições (ensino, investigação, societal e académico), será possível projectar vários cenários sobre o ensino superior, afirmando o autor que se tem vindo a perder a visão sobre os propósitos em que se ergueram as universidades durante séculos, sendo que, face ao actual contexto de restrições financeiras e de redefinição do papel dos Estados, as relações do ensino superior com a sociedade assumem, cada vez mais, uma maior importância e visibilidade.
Em função do foco da instituição, da sua história, da sua antiguidade e da sua estratégia, a incidência de actividade poderá ser maior num ou noutro quadrante, resultando daí diferentes modos de posicionamento, de acção/intervenção, de gestão/administração e mesmo de financiamento, conforme se pode compreender pela figura que se segue:
Fonte: M. Wedgwood, Manchester Metropolitan University. In: Goddard, John (2009).
Caros Dr.s Carreiras e Cunhas, se têm dificuldades em conseguir um bom picheleiro ou pedreiro, comecem por cria-los entre os seus filhos e netos e vão ver que não custa nada, que é mais barato e que fazem melhor o serviço se não acederem à educação!
Ontem o Dr. Medina Carreira voltou à carga economicista sobre o Estado Social, tendo referido que "a educação, o ensino superior, a ciência e a investigação são uma burla social e financeira". Pois eu discordo por completo, sendo que o Dr. Medina Carreira demonstrou pouco ou nada saber de Educação, de Ciência e de Desenvolvimento.
O Dr. Medina Carreira, pode entender muito de contas, mas pouco parece perceber de apuramento de resultados! Mais parece um homem do antigo regime a defender os lugares de topo só para os seus filhos e netos e a eterna reprodução social com base na discriminação e exclusão das classes mais pobres da educação, da cultura e do ensino superior. Já em 2010 o Dr. Medina Carreira havia debitado que o Estado Social era uma "burla".
Mas quem é que tem andado a burlar e a enganar o povo?
São as Instituições de Ensino e os professores?
Ou será que incomoda demasiado a transferência de competências e de capacidades reflexivas e críticas por via da educação e ensino superior?
Já desempenhei muitas actividades para as quais parece não ser necessário qualquer ensino secundário ou curso superior, mas mesmo trabalhando no que quer que seja, eu senti e sinto que a democratização da educação, do ensino superior, da ciência, da investigação e da cultura tem valido a pena e tem conseguido fazer melhores cidadãos e excelentes profissionais. Pode é incomodar muitos senhores que julgavam serem os donos do conhecimento e das competências de desenvolvimento.
Eu, que sou um filho de Abril e com todo o percurso educativo apoiado pelo Estado Social, não me sinto nada burlado nem burlão e muito menos que tenha sido excessivamente apoiado, sendo que o retorno daquilo que investiram em mim, eu estou hoje a devolvê-lo à sociedade, sobretudo para que todos consigam chegar ainda mais longe em termos socioeducativos.
Senti e continuo a sentir que progredi e que dei um pequeno salto socioeducativo, sociocultural e sobretudo profissional, graças aos apoios do Estado Social (Educação Pública e Bolsas de Estudo).
Senti e continuo a sentir que em todo este percurso, na generalidade, fui bem educado/preparado e que me transmitiram diversas competências que me permitem hoje poder aprender e trabalhar mais e melhor, mas, também, para reflectir sobre as mais diversas declarações e programações televisivas que visam influenciar uma sociedade mal (in)formada, mas já relativamente bem qualificada.
Sinto e senti que ganhei coragem para escrever este texto, seja a qualquer picheleiro ou a qualquer doutor e engenheiro. Mas fui mais longe, sendo que também aprendi as competências necessárias para lhes poder apertar uma torneira, para lhes ligar ou desligar o interruptor da TV ou mesmo para lhes apertar alguns parafusos das suas máquinas de lavar cabeças.
É que a Educação e a formação superior, nas mais diversas áreas ou níveis, em nada impediu ou impede que se possa ser um bom electricista, um bom picheleiro, um excelente operário, um excelente administrativo, um excelente especialista ou técnico superior. Não ter possibilidades de acesso à educação/formação/especialização/progressão educativa é que impede muita coisa e entrava o desenvolvimento individual, social, cultural e profissional do nosso País, da Europa e do Mundo!
O que a actual linha ideológica economicista procura impedir, é que tenhamos acesso à educação, à tomada de consciência e sobretudo ao poder reflexivo e crítico, logo, visam de novo o caminho da ignorância e da subserviência aos "senhores drs." e aos seus filhos e netos que pretendem reproduzir à custa do direito retirado, de novo, a quem tem menores recursos económicos e que, por mais inteligentes que sejam, terão de continuar a ser pedreiros ou picheleiros.
Isso eu recuso-me a aceitar e lutarei para que não volte a acontecer!
O tempo dos drs. carreia, cunha ou da alta classe social tem de acabar. O mérito não se mede por essa bitola!
Não podemos voltar a deixar instalar uma sociedade de classes privilegiadas à custa de uma esmagadora maioria explorada e desprotegida socioeconomicamente.
VIVA A DEMOCRATIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO, DO ENSINO SUPERIOR E DA INVESTIGAÇÃO - A TODOS OS NÍVEIS!
Por vezes até gosto das diretas e de algumas verdades do Dr. Medina Carreira, mas que se fique só pela análise sobre números e contas.
O Dr. Medina Carreira pode entender muito de números e de contas, disso não tenho dúvidas, mas demonstrou perceber muito pouco de apuramento dos resultados em Educação, Ensino Superior, Ciência e Investigação, tal como foi possível constatar hoje no programa "olhos nos olhos", da TVI24.
No programa de hoje, o Dr. Medina Carreira demonstrou um pensamento ideológico puramente economicista e há muito ultrapassado, pelo que será de perguntar: porque é que não coloca os filhos e netos de electricistas, pedreiros ou picheleiros? Assim, já não necessitaria de meter a cunha para conseguir o tal amigo picheleiro para lhe resolver os problemas.
Esta situação faz-me lembrar de muitos drs. que procuram um enfermeiro para cuidar dos seus pais idosos e que, mesmo de classe média alta, reclamam por não aceitarem o trabalho dia e noite pelo valor do salário mínimo. A estes eu gosto de perguntar porque é que não são eles próprios a cuidar dos seus pais idosos, já que lhes ficaria mais barato, sendo que até têm condições de ficar em casa a viver à custa do que os seus pais amealharam. Claro que ficam chateados, mas é-me indiferente, sendo que deveriam no mínimo ter mais respeito pelo trabalho que é feito em prol deles e dos seus pais já envelhecidos, dependentes e por vezes acamados.
Por outro lado, o Fisico Dr. Carlos Fiolhais, esteve muito bem na defesa da educação, da ciência e da investigação, sendo que o saber é o bem mais precioso que qualquer cidadão transporta consigo, por toda a vida e para qualquer parte do mundo, o qual pode e deve ser aplicado nas mais diversas áreas ou serviços e desde as profissões manuais, mais "simples", até às de maior complexidade intelectual. Coloquem um dr. carreira ou cunha a apertar uma torneira e verão o resultado. Provavelmente, se frequentassem ambas as faculdades, estariam duplamente mais bem preparados.
É certo que o País tem falhado na preparação profissionalizante e mesmo na preparação Cívica, Científica e Empreendedora, mas isso não impede o cidadão de amadurecer e de, a qualquer momento, aplicar, replicar e desenvolver o conhecimento adquirido, quer seja em prol de si próprio, como da indústria, do comércio, , do ambiente, ..., ou seja, da sociedade em geral. Se o cidadão for deficitário em educação, ciência e conhecimento, certamente ficará condenado à eterna condição de electricista, de pedreiro ou de picheleiro "básico", parado no tempo e com pouca ou nenhuma possibilidade de integração, de evolução e de desenvolvimento.
Quantos cidadãos e empresários não ficaram parados no tempo por falta de educação, de preparação e de conhecimento? Quantos electricistas, pedreiros, picheleiros ou pequenos e médios empresários não gostariam de ter mais qualificações para poderem evoluir socialmente, profissionalmente ou empresarialmente?
Acredito que se esses cidadãos e empresários tivessem mais e mais educação, mais e mais qualificações, mais e mais formação,..., certamente teriam progredido mais, quer a nível humano/individual, como a nível laboral, social, salarial e empresarial, sendo que está mais do que demonstrado que os funcionários e empresários altamente qualificados geram maior desenvolvimento e logo maior produtividade.
Eu, pessoalmente, ja fui empregado agrícola, electricista, trolha, mineiro, operador de caixa, auxiliar, administrativo e cheguei a técnico superior. Mas só lá cheguei porque fui apostando em mais e mais educação, mais e mais formação, mais e mais qualificação, sempre a par de mais e mais trabalho.
Então e se eu não tivesse estudado? Seria um melhor operario?
Eu sei que não!
Os meus avós eram empregados agrícolas, os meus pais operários não qualificados e eu, sem escola e sem qualificações, o que e que seria hoje?
Certamente continuaria a ser um operário não qualificado.
Seria certamente pedreiro ou electricista e nem sequer preparação teria para ver este tipo de programas e muito menos para reflectir e comentar as opiniões dos senhores drs .
Bem haja às mulheres e homens que implementaram e procuraram desenvolver o Estado Social, que nos proporcionaram educação básica, secundária e superior e nos apoiaram a lá chegar e a poder frequenta-lo em "idênticas" condições ( claro que não foi em idênticas condições mas, mesmo com dificuldades económicas e sempre a trabalhar, lá fui caminhando, passo a passo, e aplicando os conhecimentos à prática). Sem esse Estado Social e sem essa visão sobre a importância da Educação e do Ensino Superior é que eu não teria sequer saído lá do campo, onde se trabalhava de sol a sol e fins-de-semana, por meia sardinha e sem salário.
Agora, com mais estudos, eu até posso ter de voltar ao campo, às obras, à electricidade ou até emigrar para profissões "menos qualificadas", mas tenho a certeza que serei uma pessoa totalmente diferente e sempre com uma visão de amadurecimento, de evolução e de crescimento sempre presente.
Poderia até ser um pequeno ou médio empresário, sendo que tinha outros conhecimentos e outra visão sobre o trabalho e sobre a sociedade que hoje está em constante evolução e desenvolvimento . Poderia até continuar um eterno funcionário assalariado, mas tenho a certeza de que me sentiria muito melhor com mais qualificações e evoluiria profissionalmente com mais facilidade, sendo que as técnicas e práticas também evoluem muito rapidamente e são cada vez mais exigentes, mesmo nas profissões que exigem "erradamente" menores qualificações.
Eu prefiro ter uma formação superior em Direito, em Sociologia, em Gestão, Saúde, ..., ou qualquer outra e trabalhar como pedreiro ou picheleiro, do que ser um picheleiro sem o ensino básico e não ter sequer a devida consciência do mundo, da educação, da ciência e do desenvolvimento tecnológico.
Pelo menos poderia ser um picheleiro ou pedreiro com um nível cultural e educacional idêntico ou superior ao dos filhos e netos dos drs carreiras e cunhas e com a vantagem acrescida de ser detentor do conhecimento e das competências para ouvir, interpretar, reflectir e refutar, sempre que necessário, sem sentir qualquer constrangimento ou inferioridade. Isso é o que incomoda hoje muitos drs carreiras e cunhas. O problema desses drs , é que os netos e filhos de drs carreiras e cunhas dificilmente conseguiriam ser picheleiros e doutores, mas os filhos dos pedreiros e picheleiros conseguem com facilidade desempenhar diferentes profissões e ao mesmo tempo ser doutores.
Com mais educação e mais e melhores qualificações, o picheleiro será sempre muito superior aos drs., sendo que passa a estar em vantagem relativamente a estes, uma vez que, para além dos certificados ou diplomas académicos, passa a ter outras capacidades e competências para lhes apertar alguns canos, lhes espetar uns pregos e apertar alguns parafusos, sejam, físicos ou mentais.
Eramos jovens, uns mais carenciados do que outros, mas unia-nos a mesma causa: A democratização da educação em geral e do ensino superior em particular. Viamos a educação como uma rampa de lançamento essencial para a vida de todos os cidadãos, sendo que não há País desenvolvido que vingue sem um sistema educativo inclusivo e democratizador. Já dizia Nelson Mandela que "a Educação é a "arma" mais poderosa que temos ao nosso alcance para nos ajudar a mudar o mundo".
Corria o ano de 1993 quando levavamos a primeira carga policial. Desde aí que me tornei num eterno desassossegador.
Afinal de contas levei porrada porque e para que?
Por lutar por uma causa em que acreditava e anda hoje acredito?
Porque é que nos bateram? Porque continuam ainda hoje a bater nestes jovens?
Eu ainda não desisti! Venha quem vier governar Portugal.
Cidadão castrado é que nunca!
A luta pela causa - "Isto é nosso". "Nós só queremos melhor educação". "Não pagamos"
Levamos, mas não desistimos!
A reforma do Governo de Cavaco Silva, que além da revisão das propinas determinava o fim da Prova Geral de Acesso, substituindo-a por Provas Globais, foram matérias nada pacíficas, sendo que, em apenas dois anos (1992 e 1994) arrumavamos com sucessivos Ministros, tendo assumido a pasta da Educação: Diamantino Durão, Couto dos Santos e Manuela Ferreira Leite. Mas o "não pagamos" não vingou e as propinas disparavam.
Só em 1996, já com António Guterres a primeiro-ministro, é que se consegue repor o valor da propina em 6 euros. Mas a política educativa inclusiva e democratizadora seria sol de pouca dura, sendo que hoje caminha de novo para a elitização.
Esta senhora, Manuela Ferreira Leite, foi Ministra da Educação do XII Governo Constitucional, de Aníbal Cavaco Silva, de 1993 a 1995, tendo sido ela uma das denominadoras da nossa "Geração Rasca". Nunca esquecerei dos exertos de porrada que mandaram carregar sobre os estudantes que lutavam por uma causa.
Estes sujeitos e sujeitas do PSD sempre estiveram no centro da destruição da Escola Pública e no centro dos cortes de financiamento, sempre com vista à retirada das autonomias e da possibilidade de todos poderem aceder à educação/ensino superior, começando por trata-la, em 1993, com uma carga policial contra os estudantes do Ensino Superior que se manifestavam em frente ao Parlamento.
Eu fui, sou e serei sempre um estudante!
Venham com a carga policial ou asfixiante que vierem, que nunca nos retirarão esta arma!
A arma continua a acompanhar-nos na nossa cabeça.
Marco tem 16 anos e não sabe ler nem escrever.
O conhecimento carrega-se com facilidade para qualquer parte do Mundo e será sempre útil
A educação e qualificação é um impulso para a empregabilidade e para o empreendedorismo
Debate sobre o Ensino Superior em Portugal
Saiba um pouco mais sobre o estado da educação em Portugal e na Europa:
- Relatório PISA (Programme for International Student Assessment)
- Estado da Educação 2012 - Autonomia e Descentralização
- Estado da Educação 2011 - A Qualificação dos Portugueses
- Estado da Educação 2010 - Percursos Escolares
- O Sistema de Ensino Superior em Portugal (2012)
- Empregabilidade e Ensino Superior em Portugal - Relatório Final- Setembro 2012
- Estatísticas da Educação e Ensino Superior
- Breve Evolução Histórica do Sistema Educativo - Portugal
- EVOLUÇÃO DA POLÍTICA EDUCATIVA EM PORTUGAL
- CESTES – O custo dos estudantes no Ensino Superior Português
- Financiamento do Ensino Superior (Tese de Doutoramento de Luisa Cerdeira)
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