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Navego livremente entre a cidade e as serras (Baião«»Porto) Aquilo que me move é a entreajuda. Vou navegando na esperança de poder chegar a alguma pessoa ou lugar e poder ajudar. @Zé de Baião
Ao ler hoje pela manhã um artigo do jornal "Financial Times" (Peter Sábio,16/2/2014)1, cuja temática aborda Portugal como o herói surpresa da UE, graças à "prosperidade das exportações e do turismo", fico a pensar se isto será verdade ou se mera campanha de propaganda neoliberal eleitoralista para as europeias, suportada por favores comunicacionais típicos da escola económica favorável à Europa neoliberal capitalista.
O artigo de Peter Sabio refere que Portugal é o herói da prosperidade europeia, sobretudo graças ao crescimento das exportações e do turismo!?
Mas será que a maioria das famílias portugueses já sentiram a chegada do super homem?
Eu olho à minha volta, entre a cidade e as serras, entre o campo e o mar, e constato uma vida de miséria e de emigração que prospera na casa de milhares de portugueses. Será que estarão a falar da exportação da juventude e do turismo de ida e volta semanal dos nossos emigrantes que não encontram em Portugal oportunidades de trabalho e de vida digna?
O referido artigo, que se encontra ilustrado por uma entrevista ao Ministro Carlos Moedas, faz referência a uma crise que terá sido a "serva da mudança" e uma suposta alavanca que terá forçado Lisboa (o Governo) a implementar mudanças estruturais, ao mesmo tempo que refere as "despedidas lacrimosas" que tomaram conta do Aeroporto da Portela e que têm vindo a provocar o maior êxodo de jovens licenciados, na ordem dos 200 por dia. Será a esta exportação a que o Sr. Ministro se refere?
Por outro lado, refere o artigo que, a par desta miserável realidade, há uma outra que prolifera pelos movimentados shopings que "revelam um aspecto menos conhecido do ajustamento económico doloroso que tem sido encetado, em formato de sucessiva austeridade, sobre as famílias portuguesas que ninguém vem visitar nem analisar. Fala-se apenas de movimentações em aeroportos e shopings de Lisboa, mas seria relevante que os senhores jornalistas caminhassem um pouco pelo País, sobretudo interior, e constatassem por onde prolifera a miséria e não essa prosperidade que é anunciada a 100 dias das eleições europeias.
Realmente, os portugueses que passaram a viver uma vida de miséria são uns verdadeiros heróis, mas estes governates são uns bandidos ilusionistas.
Fala-se no artigo de um crescimento no último trimestre de 2013, situação que supostamente terá superado todos os outros Estados-Membro da UE, incluindo a Alemanha. Acredita mesmo nesta suposta proliferação de prosperidade?
É que eu só tenho constatado recessão sucessiva e as famílias portuguessas cada vez a passar mais dificuldades.
Bem, se olharmos para as grandes empresas e grandes capitalistas, realmente constatamos que têm ficado cada vez mais ricos e a maioria dos portugeses cada vez mais pobres. É um crescimento a caminhar para a lógica dos países de terceiro mundo, onde meia dúzia prospera e enriquece e milhões morrem à fome.
Neste artigo descrevem Portugal como a "nova estrela do crescimento da zona do euro", fazendo-se referência ao economista Christian Schulz, quando refere que a crise da dívida soberana da UE tem sido a "serva da mudança", a qual tem obrigado os Estados-Membro periféricos, como Portugal, a impor "amplas reformas estruturais" e a melhorar a sua competitividade das exportações. O problema é que só olham para a vida capital e em nada para a vida social e familiar.
Será que os portugueses pretendem ser a estrela do capitalismo, sendo os eternos servos da mudança para a miséria, isto à custa de reformas que em vez de estruturarem e melhorarem a vida de todos os portugueses só estruturam a sustentação da riqueza dos banqueiros e dos grandes grupos económicos, favorecendo o rumo do capitalismo neoliberal desregulado?
É interessante a relevância que dão no artigo a um determinado foco sobre o mercado de trabalho, "onde as indemnizações foram cortadas, as demissões facilitadas, o horário de trabalho alargado, a redução dos subsídios de desemprego e a redução do alcance dos acordos coletivos de trabalho", tudo matérias que nos fazem caminhar para uma economia de grande mercado realizado à custa da mãe-de-obra barata e da diminuição das condições de vida dos portugueses.
Só para compreenderem a lógica com que nos vendem, chegam a referir a redução do salário, o corte das indemnizações, a facilitação dos despedimentos, o alargamento do horário de trabalho e o desemprego, a redução de salários, subsídios de desemprego e de pensões, ou seja a mão-de-obra barata e o nível de vida extremamente baixo, entre outras medidas empobrecedoras, como se fossem fatores muito positivos.
É óbvio que é positivo, mas só para os capitalistas que sempre gostaram de explorar os trabalhadores e a qualquer momento deslocarem as estruturas produtivas para onde a mão-de-obra seja barata e o despedimento seja fácil. Tudo a facilitar a proliferação do capitalismo.
Note-se que "o salário médio anual caiu de € 16.760 em 2010 para 16.047 € em 2012", situação que também apontam como positivo para os mercados.
Quando terminar o programa de ajustamento, já em junho, este Governo terá deixado para trás um rastro de devastação de famílias, de pequenas e médias empresas e de um pobreza extrema muito preocupanete e alastrante: dezenas de milhares de pequenas empresas falidas ou dotadas ao esquecimento/abandono, remunerações e pensões excessivamente reduzidas e espremidas, o aumento das desigualdades, a eliminação da classe média, milhares de portugueses a viver abaixo do limiar da pobreza, milhares de jovens emigrados e milhões de vidas destruídas, sobretudo devido ao desemprego de longa duração e à falta de apoios ao investimento.
Os senhores jornalistas deveriam começar a compreender que Portugal não é só Lisboa e que os verdadeiros heróis são os milhões de portugueses que lutam e sobrevivem por todo este nosso Portugal, sobretudo interior, em condições de vida miseráveis, sem esperança e sem a vislumbração de um futuro próspero.
Vivam os herós portugueses, sendo que os Governantes têm sido uns bandidos.
1 http://www.ft.com/intl/cms/s/0/440e4c36-9713-11e3-809f-00144feab7de.html#axzz2tZkrMlpD